A morte de um catador de recicláveis na cidade de Juiz de Fora, em Minas Gerais, no dia 10 de janeiro deste ano, está trazendo à tona novamente o risco que sofrem pessoas – quase sempre de origem humilde – acusadas de crimes que não cometeram. Elvis Cleiton da Silva Batista foi espancado e apedrejado no bairro Santa Cecília, depois de ser acusado de estuprar uma menina de 9 anos.

Nesta semana, a Polícia Civil de Juiz de Fora divulgou a conclusão da investigação – e foi constatado que sequer houve o estupro que levou à reação de parentes e amigos da criança num ato de justiça com as próprias mãos. A Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) da cidade mineira descartou a hipótese de estupro. Elvis foi morto por causa de informações falsas espalhadas, inicialmente, pela mãe da menina.

A delegada do caso, Alessandra Azalim, revelou que o exame de corpo de delito constatou apenas um arranhão no braço da menina. “Segundo a própria criança, o arranhão foi causado por um cachorro. Então ouvindo o relato espontâneo da criança não restou configurado essa questão do estupro. [...] A própria mãe fala que não houve um estupro, mas que eles não tinham certeza que foi o Elvis que segurou no braço da criança", disse a policial.

Segundo a polícia, 13 pessoas, entre adolescentes e adultos, foram identificadas como participantes da sessão das agressões. De acordo com a delegada de Homicídios, Camila Miller, alguns dos envolvidos disseram sequer saber exatamente o que o homem supostamente havia feito com a criança.

Ao todo, houve o indiciamento de dez pessoas, sendo que a mãe da menina, junto com o noivo e o sogro, foram presos no dia do crime, e outras três localizadas na última sexta-feira (31). Além disso, três adolescentes responderão por ato infracional análogo ao homicídio e quatro adultos seguem foragidos.

"Ao invés de procurar a polícia, acionam um suposto justiceiro do bairro para fazer justiça com as próprias mãos. O Elvis foi espancado por diversas pessoas e acabou falecendo", disse a delegada. Os suspeitos foram indiciados por tortura e denunciados homicídio qualificado. Eles tiveram a prisão preventiva decretada pela Justiça. (Foto: Reprodução)