Crise de identidade

02/12/2015 19:31

Agir no ambiente local, onde vivemos, é prioridade. Pensar no ambiente global é fundamental, apesar da crise, que é oportunidade de crescimento e de fazer perguntas. Seja num ou noutro, é preciso de equipes unidas, mas quase sempre o que se vê quando se trata de meio ambiente é o famoso “jogo de empurra”.  É difícil ver pessoas de fato comprometidas com a causa.

Desunião resulta em serviços deficientes e dificuldades de relacionamentos. A evidência é o individualismo castro e sem piedade de alguns administradores. Em Barra Mansa, meu amigo e ex-diretor do Saae, o Phd Horácio Delgado, foi dispensado da autarquia, apesar de receber elogios por sua brilhante atuação. Houve grandes frustrações pela ruptura do trabalho do engenheiro no Saae.

A verdadeira justificativa para algumas mudanças é para adequar projetos políticos com pessoas politicamente mais capacitadas. Mas já ouvi de um secretário, que deixou outro cargo para integrar o governo municipal, palavras de arrependimento, pois considera que houve prejuízo para seus compromissos e relacionamentos eleitorais.

Um fato chama a atenção e joga luz nesta questão do pouco comprometimento do poder público de Barra Mansa com as questões relacionadas ao meio ambiente. O grupo “Inspire-se” promoveu recentemente um encontro sobre segurança do trabalho, tratando das Normas Regulamentadoras (12 e 20) que dão diretrizes sobre como se comportar diante de equipamentos e máquinas.

O secretário de Desenvolvimento Econômico de Barra Mansa, o Tuca, representou o governo municipal, mas outros secretários não se fizeram presentes, em mais uma prova do individualismo da administração municipal.  Neste encontro, questões ambientais e de segurança industrial foram tratados e o tema combustível também teve destaque.

Barra Mansa possui vários postos de gasolina, inclusive às margens dos principais rios da cidade. O Inea, através do engenheiro Diogo Singulani, falou sobre a fiscalização e as condicionantes de funcionamento e licenciamento ambiental, mas nenhum técnico do meio ambiente da prefeitura estava lá, apesar de os responsáveis pela fiscalização dos municípios receberem treinamento do Inea.

A Conferência das Nações Unidas  Rio 92 aconselha: "Pensar global e agir local". É preciso um modelo de gestão mais integrativo, onde as pessoas sejam o centro e os projetos socioambientais sejam a saída para a união de todos. As parcerias devem ser contínuas, além de introduzir soluções duradouras e capazes de tornar a cidade mais segura e abastecida pelos serviços públicos e empresariais de qualidade.

São claros os sinais de que a unidade não está acontecendo em Barra Mansa. Imagine então no nível das relações internacionais, como as que acontecem hoje em Paris.

No plano global há inovações tecnológicas, mas no local há ruptura socioambiental. No global há necessidade de redução do consumo energético derivado do petróleo; no local a violência aumenta e há perda de identidade. Sintomas de degradação social aparecem a todo momento.

No mundo global, hoje na França o tema do multilateralismo é o pano de fundo das negociações. É o espaço de tomada de decisões. Como vamos encarar o aquecimento do planeta se nem no aspecto local se consegue união e partilha de algumas decisões?

Mas também deixar como está para ver como é que fica não nos convém. Ao mesmo tempo, comungar com a desunião de um governo imbuído de individualismo é fazer a política do cada um por si.

Sendo assim, e talvez principalmente por isso, participe assim mesmo, reflita assim mesmo e aja assim mesmo. O importante é que nos unamos no mundo local solidário. Só assim seremos capazes de conseguir influenciar as atitudes globais.

Adaucto Lima Neves é professor e ex-secretário de Meio Ambiente de Barra Mansa e escreve às quartas-feiras

E-mail: adauctoneves@gmail.com